AINDA HÁ SALVAÇÃO PARA O RIO DOCE

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O rio Doce não morreu. Mas está em estado grave, muito grave. Qualquer previsão sobre o futuro do Rio Doce neste momento é mera especulação. Os otimistas falam em dez anos, outros em cem anos e os pessimistas que ele nunca mais voltara a fluir, que os peixes nunca mais voltarão, que ele está extinto. Muitos me fazem a mesma pergunta e eu disparo não uma data específica mas um intervalo de tempo para evitar o comprometimento da informação: falo entre dez e trinta anos. O certo é que, enquanto a lama estiver fluindo juntamente com as águas do rio dificilmente poderemos fazer qualquer tipo de avaliação. O que realmente podemos cravar é: toda vida aquática do rio que dependia de oxigênio morreu. O teor deste elemento vital para a vida está em zero, ou seja, os seres vivos superiores que tinham o rio como lar morreram. Hoje podemos afirmar que o Rio Doce é um rio sem vida, não morto, mas sem vida. Os peixes morreram, os caramujos morreram e por aí vai. Um lama densa composta principalmente por compostos químicos a base de ferro, alumínio e manganês. Metais pesados? Ainda pura especulação, mas os órgãos ambientais estão realizando o monitoramento do rio ao longo de toda a sua extensão, e com certeza, se houvesse a presença de metais e riscos para os seres humanos a informação seria dada.

E a tragédia acontece justamente no período da piracema, onde os peixes sobem os rios para desovar e reproduzir. Vários peixes mortos estavam cheios de ovas. Os resíduos da mineração não mataram apenas um peixes mas milhares de futuros peixes. Alguns conseguiram escapar desta desgraça acessando os afluentes do rio Doce, mas como os leitos estão baixos devido a falta de chuvas, pescadores estão facilmente capturando-os, completando o quadro desta tragédia nunca antes vista na bacia.

E a população de Governador Valadares? Calor de mais de 40º C e sem água até mesmo para matar a sede. Filas de centenas de metros para receber água e poder não tomar banho os escovar os dentes, mas para beber, para sobreviver. E o pior: após horas nas filas acabou a água! Centenas de pessoas voltam para as suas casas sem água. Roubos de água das águas nas caixas de escolas, saques de caminhões pipas e caminhões de água mineral sendo preciso escolta policial. Diversos grupos estão coletando água poluída dentro de córregos que mais parecem valões. Coletando a água turva e poluída do rio deixando o rejeito decantar, ferver e utiliza-la para beber. Água hoje em Governador Valadares tem mais valor que ouro!

As histórias da guerra pela água são antigas e sabemos que ela já acontece, principalmente na região do Oriente Médio, mas quando vimos que ela já acontece na sua casa, é de dar tristeza e encher os olhos de lágrimas.

Peixes e outros animais morreram asfixiados no rio Doce após enxurrada de lama liberada de duas barragens da mineradora Samarco em Mariana (MG) – Foto: Reprodução

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?

– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

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