O QUE DESCARTAMOS NO ESGOTO – Alexandre Sylvio Vieira da Costa

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O processo de eliminação do esgoto nas estações de tratamento é basicamente microbiológico, ou seja, os microrganismos consomem a matéria orgânica limpando parcialmente as águas. Só que os microrganismos não consomem as diferentes matérias orgânicas da mesma forma existindo as de fácil e de difícil decomposição. Para que os microrganismos realizem o seu papel de limpeza do esgoto, a matéria orgânica precisa ser de fácil decomposição.

Os principais componentes do esgoto como as fezes, urina e restos de alimentos são compostos orgânicos de fácil decomposição pelos microrganismos o que ajuda, e muito, no processo de tratamento do esgoto nas estações. Mas, infelizmente, a população tende a jogar nas redes de esgoto materiais que mudam sua característica dificultando a decomposição microbiológica e consequentemente a eficiência das estações de tratamento. O papel higiênico, por exemplo, tem como base as fibras de celulose que são de difícil decomposição pelos microrganismos. Quanto mais papel é descartado nos vasos sanitários, mais difícil se torna a decomposição do esgoto nas estações de tratamento e, consequentemente, a purificação da água.

Mas existe um outro produto que é descartado em grandes quantidades no esgoto e que compromete seriamente a sua decomposição: o óleo de cozinha. Este produto consumido diariamente em milhões de casas no Brasil e por milhares de restaurantes, depois de usado em frituras tendem a ser descartados diretamente nas pias. As caixas de gordura presente nas residências retém parte deste óleo evitando que atinjam as redes coletoras de esgoto, mas dependendo da quantidade, muito destes óleos passam pelas caixas atingindo as redes chegando às estações de tratamento. Estes óleos que prejudicam o meio ambiente e comprometem o tratamento dos esgotos podem ser utilizados, por exemplo, como matéria prima na produção de sabão e de biodiesel.

Devemos pensar no esgoto de uma forma mais ampla, em toda a sua cadeia, e não apenas no descarte de nossas residências. Em toda cidade deveria existir uma rede coletora fechada evitando o contato com as pessoas, reduzindo as doenças infecciosas e o mau cheiro e uma estação de tratamento purificando a água eliminando a contaminação dos nossos mananciais hídricos, os rios e lagos.

Somos também responsáveis pelo bom funcionamento do sistema, não apenas com o pagamento das taxas de esgoto, mas também com o que descartamos nele. Devemos evitar jogar nos vasos sanitários, camisinhas, absorventes íntimos, papéis, plásticos, cabelos e nas pias das cozinhas, óleos e gorduras.

Em uma cidade de Minas Gerais a concessionária responsável pela coleta e tratamento do esgoto encontrou na rede coletora calça jeans, cachorro morto e até mesmo um vaso sanitário, tudo descartado diretamente na rede. Não sei se em algum dia teremos a consciência coletiva dos japoneses que recolhem o lixo produzido por eles nos estádios após uma partida de futebol, mas pelo menos, devemos ter a consciência que o descarte incorreto de certos materiais na rede de esgoto pode comprometer, e muito, toda a sua cadeia, desde entupimento da rede até o seu tratamento final nas estações. Devemos, desde já, iniciarmos as nossas mudanças de atitude.

Quem é Alexandre Sylvio Vieira da Costa?



– Nascido na cidade de Niterói, RJ;
– Engenheiro Agrônomo Formado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro;
– Mestre em Produção Vegetal pela Embrapa-Agrobiologia/Universidade Federal Rural do
Rio de Janeiro;
– Doutor em Produção Vegetal pela Universidade Federal de Viçosa;
– Pós doutorado em Geociências pela Universidade Federal de Minas Gerais;
– Foi Coordenador Adjunto da Câmara Especializada de Agronomia e Coordenador da
Comissão Técnica de Meio Ambiente do CREA/Minas;
– Foi Presidente da Câmara Técnica de eventos Críticos do Comitê da Bacia
Hidrográfica do Rio Doce;
– Atualmente, professor Adjunto dos cursos de Engenharia da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri, Campus Teófilo Otoni;

– Blog: asylvio.blogspot.com.br
– E-mail: alexandre.costa@ufvjm.edu.br

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