Governador Valadares registra primeira morte por leishmaniose em 2016

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Um bebê de cinco meses morreu nessa segunda-feira (24/10/2016) por leishmaniose, no Hospital Municipal de Governador Valadares (MG). A criança Valentina Souza Mendes havia sido internada no último fim de semana e passava por tratamento. Este é o primeiro caso de morte na cidade em 2016. No mesmo hospital, uma criança de dois anos segue internada, diagnosticada com leishmaniose visceral.

Segundo a Assessoria de comunicação da Prefeitura, neste ano foram registrados 15 casos de leishmaniose em humanos. Em 2015, foram registrados 17 casos e duas mortes em decorrência da doença.

Criança faleceu no hospital municipal (Foto: Reprodução)

O que é a leishmaniose visceral?

É uma doença infecciosa sistêmica, caracterizada por febre de longa duração, aumento do fígado e baço (hepatoesplenomegalia), perda de peso, fraqueza, redução da força muscular, anemia e outras manifestações.

Pessoas residentes em áreas onde ocorrem casos de leishmaniose visceral, ao sentirem esses sintomas devem procurar o serviço de saúde mais próximo a sua casa o quanto antes, pois o diagnóstico e o tratamento precoce evitam o agravamento da doença, que pode ser fatal se não for tratada.

Como se transmite a leishmaniose visceral?

A transmissão acontece quando fêmeas de insetos flebotomíneos infectados picam cães ou outros animais infectados e depois pica o homem transmitindo o protozoário Leishmania chagasi.

Como são chamados os insetos que transmitem a LV? E quais suas principais características?

Os transmissores da LV são insetos denominados flebotomíneos e conhecidos popularmente como mosquito palha, asa-dura, tatuquiras, birigui, dentre outros. O nome científico da espécie de flebotomíneo mais importante para a transmissão da LV é Lutzomyia longipalpis.

Estes insetos são pequenos e têm como características a coloração amarelada ou de cor palha e, em posição de repouso, suas asas permanecem eretas e semiabertas.

O ciclo biológico do vetor ocorre no ambiente terrestre e passa por 4 fases: ovo, larva, pupa e adulto (forma alada). Desenvolvem-se em locais úmidos, sombreados e ricos em matéria orgânica (folhas, frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo, locais onde os flebotomíneos se desenvolvem). O desenvolvimento do ovo à fase adulta ocorre em cerca de 30 dias.

As formas adultas abrigam-se nos mesmos locais dos criadouros e em anexos peridomiciliares, principalmente em abrigos de animais domésticos.

Somente as fêmeas se alimentam de sangue, pois necessitam de sangue para o desenvolvimento dos ovos e sugam uma ampla variedade de animais vertebrados.

A alimentação é predominantemente noturna. Tanto o macho quanto a fêmea tendem a não se afastar muito de seus criadouros ou locais de abrigo podendo se deslocar até cerca de 1 quilômetro, com a expressiva maioria não indo além dos 250 metros. O tempo de vida (longevidade) da fêmea é estimado, em média, em 20 dias.

É possível combater o inseto transmissor? Quais ações podem ser feitas para evitá-lo e controlá-lo?

Sim. Especialmente com o apoio da população, no que diz respeito à higiene ambiental (manejo ambiental). Ou seja, por meio de limpeza periódica dos quintais, retirada da matéria orgânica em decomposição (folhas, frutos, fezes de animais e outros entulhos que favoreçam a umidade do solo, locais onde os flebotomíneos se desenvolvem) e destino adequado do lixo orgânico, a fim de impedir o desenvolvimento das formas imaturas dos flebotomíneos; limpeza dos abrigos de animais domésticos, além da manutenção de animais domésticos distantes do domicílio, especialmente durante a noite, de modo a reduzir a atração dos flebotomíneos para o intradomicílio.

Outra forma de controle do inseto transmissor é por meio do uso de inseticida (aplicado nas paredes de domicílios e abrigos de animais). Porém a sua indicação é apenas para as áreas com elevado número de casos como municípios de transmissão intensa (média de casos humanos dos últimos 3 anos acima de 4,4), moderada (média de casos humanos dos últimos 3 anos acima de 2,4) ou em surto de LV.

Ressalta-se que esta medida é direcionada apenas para o inseto adulto, daí a importância de desenvolver ações de manejo ambiental de forma a destruir os locais de desenvolvimento das formas imaturas do vetor (ovos, larvas e pupa).

A LV tem tratamento em seres humanos?

Apesar de grave, a Leishmaniose Visceral (LV) tem tratamento para os humanos. Ele é gratuito e está disponível na rede de serviços do Sistema Único de Saúde e baseia-se na utilização de três fármacos a depender da indicação médica: o antimoniato de N-metil glucamina (Glucantime®), a anfotericina B e a anfotericina B lipossomal.

E para os cães? Existe tratamento eficaz?

O tratamento da Leishmaniose Visceral Canina (LVC) traz riscos para a Saúde Pública por contribuir com a disseminação da doença, pois os cães não são curados parasitologicamente, permanecendo como reservatórios do parasito, além do risco de desenvolvimento e disseminação de cepas de parasitos resistentes às poucas medicações disponíveis para o tratamento da leishmaniose visceral humana.

Os medicamentos utilizados atualmente para tratar a LV não eliminam por completo o parasito nas pessoas e nos cães, no entanto, no Brasil o homem não tem importância como reservatório, ao contrário do cão que é o principal reservatório do parasito em área urbana. Portanto, nos cães, o tratamento pode até resultar no desaparecimento dos sinais clínicos, porém os mesmos ainda continuarão como fontes de infecção para o vetor, e, portanto um risco para saúde da população humana e canina.

A eutanásia de cães é a única solução?

A eutanásia é recomendada como uma das formas de controle da Leishmaniose Visceral (LV), mas deve ser realizada de forma integrada com as demais ações recomendadas pelo Ministério da Saúde (MS). Vale ressaltar que a mesma é indicada como forma de controle por meio de inquéritos censitários apenas para municípios com transmissão moderada e intensa, o que atualmente equivale a 251 municípios no Brasil.

Existem formas de prevenir a infecção tanto no cão quanto no homem. Para tanto é fundamental a limpeza de quintais através da retirada de matéria orgânica (folhas, troncos, restos de vegetação), lixo, limpeza periódica dos abrigos de animais domésticos e, se possível, manter os abrigos de animais afastados da casa. Lembrando que, para que a transmissão da LV ocorra é preciso ter a presença do inseto flebotomíneo, por isso devemos manter a higiene permanente do ambiente de forma a reduzir ou eliminar os potenciais criadouros destes insetos, consequentemente, promovendo a proteção dos cães e dos seres humanos contra a doença. Recomenda-se também, como forma de impedir que o vetor se instale no intradomicílio, o uso de telas de malha fina em janelas e portas.

Existem outras ferramentas preventivas que merecem ser melhor avaliadas do ponto de vista do uso em saúde pública. Uma dessas ferramentas é a coleira impregnada com deltametrina a 4%. O MS está financiando um estudo para avaliar o impacto do uso dessa ferramenta no controle da LV humana em municípios de transmissão intensa do país.

Existem vacinas contra leishmaniose visceral canina no Brasil? O Ministério da Saúde recomenda o seu uso?

Atualmente existe uma vacina antileishmaniose visceral canina em comercialização no Brasil. Os resultados do estudo apresentado pelo laboratório produtor da vacina atendeu às exigências da Instrução Normativa Interministerial n° 31 de 09 de julho de 2007, o que resultou na manutenção de seu registro pelo Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento. No entanto, não existem estudos que comprovem a efetividade do uso dessa vacina na redução da incidência da leishmaniose visceral em humanos. Dessa forma, o seu uso está restrito à proteção individual dos cães e não como uma ferramenta de Saúde Pública.

A vacina está indicada somente para animais assintomáticos com resultados sorológicos não reagentes para leishmanioses visceral. Cabe destacar que o imunobiológico não é o único instrumento de prevenção individual da leishmaniose visceral canina (LVC) e que outras medidas devem ser adotadas, conforme normatização do Ministério da Saúde. Os animais que apresentarem sinais clínicos compatíveis com LVC e/ou reações sorológicas reagentes estarão passíveis das medidas sanitárias vigentes.

(Fonte: G1 e Portal da Saúde)

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